quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Just floating...



Por mais que saibamos que a vida no fundo é um turbilhão de emoções, ela ainda consegue nos surpreender. Ou pelo menos tem esse efeito sobre gente como eu, que se deixa ser folha que vai ao ritmo do vento. Gente que, na maioria das vezes, sem perceber, se joga ao vento para que o movimento aconteça.

O vento invariavelmente me joga no chão e me faz rastejar por ele, sem oportunidade de alçar vôo. Como folha, meu caminho é, em alguns momentos, tortuoso, variado e contemplativo. Mas é caminho terreno; é chão; é terra e concreto. Concreto cinza. Sem muita cor.

Mas o tal turbilhão, de repente, muda a intensidade e a direção do vento. E a folha que quase sempre viu apenas o chão, de repente alça um pequeno vôo. Afasta-se ligeiramente do concreto cinza e percebe outra paisagem. Olha o chão, a terra e o concreto de cima. E esse olhar traz a percepção, há tempos esquecida, de que é possível pisar em lugar de rastejar.

Por mais que o vôo seja breve, ou até se o vento vier a se transformar em fraca brisa, a folha já terá reavivado em sua memória uma outra possibilidade de visão. Uma visão além do concreto cinza. Com cores. Sejam elas quais forem.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Subtração de mim



Menos.

Preciso de menos. Preciso ser menos.

Imaginar menos. Querer menos. Sonhar menos.

Sentir menos. Buscar menos. Esperar menos.

Interessar-me menos. Indagar menos. Provocar menos.

Aventurar-me menos. Conhecer menos. Aceitar menos.

Apoiar menos. Acolher menos. Convidar menos.

Abrir-me menos. Sorrir menos. Gostar menos.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Dependência


Há tempos não acontecia. O que antes era recorrente, e por vezes sufocante, com o tempo desapareceu. A ponto de me fazer pensar: como um dia tudo pôde ser daquele jeito? Era de verdade?

Há muito tempo não acontecia. Mas agora já não é assim. O vício, travestido de necessidade, aflora a cada pequena exposição à "droga". Droga que meu inconsciente me fez provar novamente na noite passada. De maneira sutil, sem nem saber o porquê, você esteve lá. Como sempre, com todo o controle sobre mim, mas sem sabê-lo; trazendo-me o ar, e roubando-me o alento. Fazendo-me sorrir, mas tremer por dentro.

A perspectiva de sua atenção norteava  meu agir e meu pensar. Mas sua atenção nunca foi somente minha; e nem será. Contentei-me sempre com o pouco que recebia de você e transformava o pouco em quase tudo, mas nunca no suficiente.

Na noite passada ansiei por esse pouco, desesperadamente; mas nem ele veio. Você passou por mim, como sempre. Por que não me viu, ao menos?

Você não me viu, mas sorriu. E seu sorriso me devolveu o alento roubado. E seu sorriso, ainda sendo pouco, fez-se o meu tudo para o dia de hoje. E meu sorriso também se abriu, mas não se fundiu ao seu.

Como sempre.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Raízes


Há surpresas que nos reconfortam. Gestos simples, mas sinceros, e que garantem a existência de sentimentos nos quais já não acreditávamos.
Laços efetivamente fortes se mantêm, ainda que obscurecidos e afrouxados pelo tempo e pela distância. Há que se amadurecer para perceber, e internalizar, que não se trata da recorrência nem da quantidade de manifestações, mas sim da itensidade delas. A singularidade de um gesto, aliada à sua profundidade, o tornam precioso e memorável.
O amadurecimento é fruto de constantes trabalho e esforço. Faz-se sempre necessário crer nas possibilidades e nas pessoas, pois elas nos supreendem mostrando-nos aqueles sentimentos desacreditados.
Profundidade; raízes; solidez. Disso são feitas as relações.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Viver


Como não se curvar? Como não envergar a espinha e, num movimento de desistência aliviada, entregar-se ao esquecimento daquilo que nos sufoca?
Não tenho resposta concreta a essa pergunta, a não ser o involuntário ato de continuar, como sempre foi feito. Certamente não se trata de persistência; é apenas a imobilidade diante do fluxo natural que é a vida.
Vida que nos traz uma multiplicidade de paredes a atravessar, de forma quase caleidoscópica, desconexa e arrebatadora. Viver é atravessar quatro paredes ao mesmo tempo; uma em cada direção.
Em alguns momentos, nos deparamos com seres que nos abrem portas, facilitando-nos o lidar com as paredes. Em outros, tais seres se vão, deixando atrás de si portas fechadas que não mais se abrirão.
Ficam as paredes. Surgindo. Girando. Se aproximando. Nos golpeando. Nos derrubando. Já não há portas.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Demorou...


...mas voltei.
Fiquei muito tempo ausente, mas não deixei de pensar que deveria escrever. Apenas sentia que não tinha sobre o que escrever. E continuo não tendo. E o não ter fez-se assunto.
É estranho como as pessoas se impõem obrigações que nem sempre desejam cumprir. Ou não estão prontas para cumpri-las.
Encaixo-me perfeitamente nesta situação.
Tentarei não fazer deste blog uma obrigação a mais. E só agora a minha "ficha caiu". Quero este espaço e dele preciso para exteriorizar o que vai aqui dentro; para cuspir a areia que range nos dentes. Portanto, a ele virei quando tiver necessidade; ou quando dele sentir falta.
Já matei as saudades.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Será a serenidade?

A paz de espírito às vezes chega muito sutilmente e, quando nos damos conta, a angústia e a tristeza já se foram, ainda que temporariamente. E, se pensarmos, na maioria das vezes são coisas muito simples e singelas que conseguem nos devolver a serenidade. Pode ser a quase realização de um desejo, um passo que nos aproxima do objeto de nosso desejo, ou até o mero vislumbrar esse objeto.

Alguns dirão que se o objeto não é nosso por inteiro ou se a realização do desejo não é plena, não terá valido a pena; ou que o "contentar-se com migalhas" não aplaca a fome interior. Sempre haveremos de querer mais. Outros, entretanto, aprendem a viver com tais migalhas e delas tiram a força necessária para sobreviver. Essa talvez não seja realmente uma forma de vida plena, mas ainda assim consegue alimentar a chama para que ela não se apague definitivamente.